(Foto: Vitória 87 FM)
Robinho mudou a sua rotina após ser condenado por estupro coletivo na última instância da Justiça italiana, em 19 de janeiro de 2022. O jogador já vivia um dia a dia mais isolado, mas está ainda mais recluso depois da pena final de nove anos de prisão na Itália.
Como não pode ser extraditado, ele está livre no Brasil e fica na maior parte do tempo na sua casa, localizada no luxuoso condomínio Jardim Acapulco, no Guarujá (SP). Por outro lado, agora não pode sair do país, já que a Itália emitiu mandado de prisão internacional.
O atacante de 38 anos tem casa na cidade de Santos, mas opta por Guarujá neste momento pela privacidade. Ele não tem atualizado as redes sociais e evita qualquer aparição pública.
Nos últimos dias, por exemplo, Robinho foi ao seu barbeiro e surpreendeu os presentes no salão pelo silêncio. Ele entrou e saiu do espaço sem conversar e só disse o mínimo.
"Não deu um sorriso", disse um interlocutor, à reportagem.
Robinho tinha o hábito de jogar futevôlei na praia na altura do Canal 6 de Santos. Nos últimos dias, entretanto, trocou as areias por uma quadra particular na sua casa do Guarujá.
Robinho ainda não admite oficialmente o fim da carreira, mas pessoas próximas a ele acreditam que as chuteiras já foram penduradas. O atacante recusou sondagens recentes de clubes pequenos depois de viver a expectativa de voltar ao Santos.
Antes do último julgamento, a reportagem ouviu de pessoas próximas a Robinho que ele esperava ser inocentado para ter uma nova chance de vestir a camisa do Santos, seu clube do coração, nem que fosse para uma despedida. Esse sonho ficou inviável com a condenação na última instância.
Com futuro incerto, o jogador treina para manter a forma física em uma academia própria.
Mesmo sem jogar mais, ele não deve ter problemas financeiros.
O atleta tem economias, principalmente após a passagem pelo Evergrande, do futebol chinês -ele ainda jogou por Real Madrid, Manchester City e dois clubes da Turquia, Basaksehir e Sivasspor-, e tem dinheiro aplicado em investimentos.
Um amigo do atacante falou à reportagem que, sem loucuras, "tem dinheiro para ele, os filhos e os netos".
O Santos terminou de pagar em janeiro deste ano uma dívida com Robinho da época do ex-presidente Modesto Roma, à frente do clube de 2015 a 2017. O valor total era de R$ 2,3 milhões e foi renegociado para R$ 1,8 milhão. As parcelas foram de R$ 150 mil.
O Santos do ex-presidente Orlando Rollo contratou Robinho em outubro de 2020, mas suspendeu o acordo antes mesmo da reestreia por causa da pressão de patrocinadores. Andres Rueda assumiu o posto de mandatário alvinegro em janeiro de 2021 com a esperança de rescindir logo de cara, porém, os custos seriam elevados e a decisão foi de esperar o término do vínculo, em 28 de fevereiro de 2021.
Robinho havia assinado um contrato curto, com possibilidade de renovação, e salário simbólico. À época, o atacante falou sobre a decisão do Santos.
"Estou aqui com tristeza no coração para falar a vocês que tomei a decisão, junto ao presidente, de suspender meu contrato diante desse momento conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos. Se de alguma forma estou atrapalhando, melhor que eu saia e foque nas minhas coisas pessoais. Com certeza vou provar minha inocência", disse.
Na mesma semana, ele afirmou ao UOL Esporte que "o crime foi trair a esposa".
A mulher albanesa que foi vítima de violência sexual de grupo cometida pelo jogador Robinho e seu amigo Ricardo Falco se pronunciou pela primeira vez em mensagem enviada com exclusividade também ao UOL Esporte. R. (que não quer ser identificada) pede que as mulheres denunciem seus agressores e não tenham medo.
"Mulheres, denunciem, não tenham medo de seus agressores porque diante de cada agressor há outras dez pessoas boas prontas a te ajudar: um amigo, um familiar, um policial competente, um juiz, mas, sobretudo, a Justiça", disse.
Na mensagem, R. afirma que a Justiça nunca pagará a dor de um crime, mas tem o poder de ajudar outra mulher a não sofrer violência sexual.
"Mesmo que ela [Justiça] não seja totalmente reconfortante, porque nunca pagará a dor, a raiva ou fará você voltar a ser a pessoa que era antes, a Justiça será reconfortante para outra mulher. Uma mulher que pode ser nossa mãe, nossa amiga, nossa irmã ou nossa filha. Só denunciando podemos evitar que isso volte a acontecer", afirma.
A vítima, diferentemente de Robinho, esteve presente em todas as audiências e, em cada uma delas, teve de reviver o horror daquela noite que deveria ser de alegria e virou pesadelo. Após o crime, a mulher procurou o advogado Jacopo Gnocchi e, junto a ele, prestou denúncia na polícia de Milão que, imediatamente, abriu uma investigação sobre o caso.
O caso de estupro coletivo aconteceu em Milão, na boate Sio Cafe, durante a madrugada de 22 de janeiro de 2013. A vítima comemorava, na época, seu aniversário de 23 anos. Além de Robinho, que então defendia o Milan, e Ricardo Falco, amigo do atleta, outros quatro brasileiros foram denunciados por terem participado do ato.
Como já haviam deixado a Itália no decorrer das investigações, eles não foram avisados da conclusão das investigações e por isso não foram processados. O caso contra esses quatro brasileiros está suspenso até o momento, mas pode ser reaberto, principalmente agora que a última instância da Justiça italiana confirmou a condenação de Robinho e Falco.
Robinho admitiu ter mantido relação sexual com a vítima, mas negou as acusações de violência sexual, quando foi interrogado, em 2014. Em entrevista ao UOL Esporte em outubro de 2020, o jogador afirmou que não abusou sexualmente da mulher.
Ele não compareceu a nenhuma das audiências nos quase seis anos de julgamento. O processo, que iniciou em 2016, teve a sentença de primeiro grau proferida em 23 de novembro de 2017. O caso voltou à tona em outubro de 2020 quando o site GE.com publicou trechos de conversas interceptadas pela polícia, nas quais Robinho e os amigos fazem pouco caso da vítima.
"Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu", escreveu o jogador em uma das conversas.
Ao longo do processo, a defesa de Robinho alegou que algumas traduções estavam erradas, que transcrições das conversas grampeadas deixavam dúvidas e que era impossível provar que a vítima estava em condição de inferioridade psíquica e física como descrito na sentença de primeiro grau.
Mesmo assim, em dezembro de 2020, a corte de Apelação de Milão, segunda instância da justiça italiana, em audiência única, confirmou a condenação do atacante e de Falco a nove anos de prisão.
De acordo com a juíza italiana Francesca Vitale, que presidiu o julgamento em segunda instância, "a vítima foi humilhada e usada pelo jogador e seus amigos para satisfazer seus instintos sexuais".
"O fato é extremamente grave pela modalidade, número de pessoas envolvidas e o particular desprezo manifestado no confronto da vítima, que foi brutalmente humilhada e usada para o próprio prazer pessoal", escreveu a magistrada.
A defesa do brasileiro, então, apelou à Corte de Cassação, a terceira e última instância italiana, mas teve o recurso rejeitado. E a pena de nove anos foi mantida.