(Foto: Vitória 87 FM)
Três policiais penais suspeitos de matar jovem durante abordagem a carro são indiciados por homicídio e fraude processual
Na época, Polícia Penal disse que carro da família onde o jovem foi baleado foi confundido com outro usado por criminosos. Um quarto policial foi indiciado apenas por fraude processual.
Policiais penais foram indiciados por homicídio e fraude processual pela morte de um jovem de 26 anos durante uma abordagem a um carro onde o rapaz estava com a família. Hermes Júnior de Oliveira foi baleado na nuca perto do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, há pouco mais de três meses. Na época, a Polícia Penal disse que o carro da família foi confundido com outro usado por criminosos.
Os policiais penais indiciados são:
Alisson Marcos: foi quem disparou o tiro que matou Hermes. Ele foi indiciado por homicídio e fraude processual;
Florisvaldo Ferreira da Silva Costa: indiciado por homicídio e fraude processual;
Alan de Moraes Amaral: indiciado por homicídio e fraude processual;
Osmar Pedro de Oliveira Junior: ele era o motorista, que não desceu do carro durante a abordagem e não atirou. Ele foi indiciado apenas por fraude processual.
Até a última atualização desta reportagem, o g1 não conseguiu localizar as defesas deles para que se posicionem.
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) disse que os policiais penais estão afastados de suas funções e que a corregedoria também apura o fato, por meio de procedimento administrativo disciplinar. A DGAP disse ainda que, havendo a comprovação de qualquer tipo de transgressão, os servidores poderão sofrer punições disciplinares.
Após o inquérito ser concluído pela Polícia Civil na última sexta-feira (24), o procedimento foi remetido ao Poder Judiciário na segunda-feira (27). Já o crime foi no dia 22 de novembro de 2022, no Setor Vale do Sol.Crime
O inquérito policial narra que, no dia dos fatos, Hermes Júnior estava no carro com a mãe e um amigo seguindo o pai, Hermes José Oliveira, que foi ao trabalho guardar um caminhão. Depois do veículo de carga guardado, Hermes José entrou no carro do filho e todos se dirigiam para casa.
Na época do crime, os pais denunciaram que viram um farol e um policial gritou: "Para, senão eu atiro". Nessa hora, o agente já teria começado a disparar contra o carro da família.
“Já começaram a atirar em nós. Acertou a cabeça do meu filho, machucou o meu rosto perto do meu olho e a minha esposa”, contou o pai do jovem, à época.
O pai contou que estava no banco de trás e, ao ver o filho baleado, segurou o volante e puxou o freio de mão, parando o carro. A família disse que pediu ajuda, mas os policiais penais não pararam para dar qualquer socorro.
A própria família colocou Hermes Júnior no banco de trás e seguiu até o Cais Chácara do Governador, mas o jovem já estava morto. O jovem era casado e deixou uma filha que, na época, tinha 11 meses.
“Ele morreu nos meus braços”, disse o pai.
O que disseram os policiais
Na época do crime e também em depoimento à Polícia Civil, os policiais penais disseram que agiram para tentar evitar o lançamento de itens proibidos dentro do presídio e que entraram em confronto com um carro de cor escura e com cerca de três ocupantes, mas os criminosos fugiram.
Durante patrulha, os policiais penais viram um carro com as mesmas características na região e começaram a seguir. Contudo, de acordo com o relato dos agentes à PC, eles deram ordem de parada ao motorista do carro, que não teria obedecido. Nesse momento, eles alegaram que resolveram atirar nos pneus do veículo e que não tinham intenção de acertar nenhum ocupante.
“Por supostamente tratar de um veículo conduzido por indivíduos de alta periculosidade, armados e que teriam atirados contra guarnição de policiais penais, foram realizados disparos de arma de fogo pelos policiais na tentativa de interceptação do veículo em fuga, sendo que o mesmo evadiu do local, sem ser novamente visto pelos servidores”, disse uma nota da DGAP, na época do crime.
Indiciamento
O delegado Rogério Bicalho concluiu que a abordagem ao veículo da vítima não foi feita conforme os procedimentos corretos e que os policiais não tiveram a intenção direta de provocar o resultado, mas assumiram o risco, caracterizando dolo eventual.
Ao longo das investigações, a Polícia Civil concluiu que um projétil encontrado dentro do veículo não foi disparado por nenhuma das armas apreendidas, o que, segundo o delegado, indica que pelo menos uma das armas dos policiais foi trocada visando dificultar a investigação. Para que isso fosse feito, a PC acredita que algum funcionário da DGAP possa ter ajudado a forjar documentos.
Sobre a possível participação de servidores administrativos neste caso, a DGAP disse que ainda não teve acesso ao inquérito policial e que, assim que o procedimento administrativo disciplinar for concluído, vai se manifestar.
Três dos quatro policiais penais foram indiciados por homicídio com dolo eventual e fraude processual e um deles, o motorista da viatura, que não desceu do carro durante a ação e não atirou contra o veículo das vítimas, foi indiciado por fraude processual.
Por Danielle Oliveira e Geovane Ázara, g1 Goiás e TV Anhanguera