(Foto: Vitória 87 FM)
família está 'decepcionada, contrariada e triste'. Advogado de defesa dos réus apresentou atestado médico pela segunda vez.
A mãe do estudante Roberto Lourenço da Silva, conhecido carinhosamente como Robertinho, de 16 anos, lamentou o sexto adiamento do júri popular dos policiais militares acusados de matar o adolescente, em Goiânia. Ao g1, Sheila Campos afirmou que a família está decepcionada com a situação."Não chega ao fim. A gente volta sempre para o que aconteceu. Não é fácil perder uma pessoa e ir até lá para o julgamento e depois entrar na espera novamente. A família está decepcionada, contrariada e triste", afirmou.
“A gente viu eles [acusados] rindo, brincando. Eles tocaram a vida, nós não. Eu perdoei eles, mas quero justiça”.
Vídeo mostra desespero após adolescente ser baleado e morto dentro de casa, em Goiânia
O júri popular de Cláudio Henrique da Silva, Paulo Antônio de Souza Júnior e Rogério Rangel Araújo Silva foi adiado após o advogado de defesa, Thales Jayme, apresentar um atestado médico. Essa é a segunda vez que o júri é adiado após o mesmo advogado apresentar atestado. O julgamento estava programado para acontecer nesta quarta-feira (17).O g1 entrou em contato com Thales Jayme para pedir um posicionamento, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.De acordo com o juiz Lourival Machado, o julgamento deve acontecer no dia 26 de junho. Além do homicídio do jovem, de 16 anos, Cláudio Henrique da Silva, Paulo Antônio de Souza Júnior e Rogério Rangel Araújo Silva também são réus por tentativa de homicídio contra o pai da vítima, Roberto Lourenço da Silva, de 42 anos. O crime ocorreu dentro da casa onde pai e filho moravam, em Goiânia.
Cláudio e Rogério serão julgados por dupla tentativa de homicídio simples, enquanto Paulo responderá por homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio simples. Caso sejam condenados, os três também podem responder por abuso de autoridade e fraude processual.
Novo adiamento
No dia 17 de abril, o júri foi adiado após o advogado de defesa dos acusados apresentar um atestado médico. Por isso, foi remarcado e estava previsto acontecer na manhã desta quarta-feira (17). Entretanto, o advogado de defesa fez um pedido de adiamento e apresentou um novo atestado médico em que alega que se machucou durante o final de semana.
Conforme o juiz, o atestado afirma que o advogado está incapacitado de comparecer por 15 dias, mas participou de outro julgamento na última segunda-feira (15).
“Ele falou que sofreu uma queda e está incapacitado por 15 dias, mas na segunda-feira participou da sessão até quase 20h”, disse Lourival .
Segundo o juiz, o diretor da clínica em que foi feito o atestado médico será intimado para apresentar o prontuário dentro de 24h.
De acordo com o juiz, os réus têm 10 dias para apresentar novos advogados caso queiram, podendo também continuar com o mesmo defensor. Se uma novo advogado não for indicado, a Justiça vai designar um defensor público.
Relembre o caso
Segundo o processo, no dia 17 de abril de 2017, os três PMs, que faziam parte do serviço reservado, estavam à paisana, foram até a casa do ex-mecânico, que estava com o filho e a esposa, e desligaram o relógio de energia.
Assustado, Roberto pegou uma arma que tinha em casa, adquirida após sofrer um assalto, e deu um tiro para cima. Na sequência, foram dados vários tiros de fora da casa para dentro. Ainda de acordo com a investigação, Robertinho foi atingido por mais de dez disparos e morreu no local. Os militares, porém, alegaram legítima defesa.
Roberto também foi baleado e socorrido. Ele recebeu alta tempos depois, mas não se recuperou totalmente, pois ainda tem projéteis no corpo que não foram retirados, o que lhe causa uma série de dores. Os réus, Cláudio Henrique da Silva, Paulo Antônio de Souza Júnior, Rogério Rangel Araújo Silva, chegaram a ser presos, mas foram soltos quase três meses depois.
Detalhes da noite do crime
Um vídeo gravado logo após o crime mostra o desespero da madrasta do adolescente. Nas imagens é possível ver que a mulher afirma que a casa foi invadida e alvejada por policiais militares e até questiona um homem, que seria um dos agentes, sobre os motivos (assista abaixo).
"Ai meu pai do céu. O Robertinho está lá caído no chão, meu pai. Como é que fazem uma coisa dessas, a gente estava dentro de casa, sem fazer nada, aí chega a polícia atirando. Mataram o menino que não fez nada, é estudante", disse.
Em seguida, ela questiona o homem: "Porque você desligou a energia da nossa casa, moço? Você está mentindo, você desligou. O vizinho está de prova", argumentou a mulher.
De acordo com a madrasta, a família estava em casa quando todas as luzes se apagaram. Assim, o pai e o menor saíram para ver o que tinha acontecido e ela e os outros dois filhos do casal, de 14 e 8 anos, ficaram no interior do imóvel.
Segundo a mulher, ao sair, as vítimas perceberam que todos os outros vizinhos tinham energia e já ficaram apreensivos, pois a família foi vítima de um assalto há três meses, quando foi feita refém e teve um carro roubado. Desde então, o pai comprou uma arma para se defender.
"Meu esposo colocou a escada no muro para ver o que tinha acontecido. Em seguida ele pegou a arma e foi em direção ao portão. Daí para frente só ouvi tiro de fora para dentro”, contou ela.
A mulher relatou que homens que estavam do lado de fora exigiam que Roberto Lourenço abrisse o portão, mas ele se recusou.
"Primeiro eles atiraram do lado de fora, metralharam tudo, depois falaram para abrir o portão. Meu esposo se negou porque achou que fossem assaltantes. Quando atiraram do lado de fora já atingiram meu esposo e meu enteado. Eles arrombaram o portão e entraram atirando", contou.
Drogas
Na época, o delegado Marco Aurélio Euzébio Ferreira, responsável pelo caso, disse que os policiais, pertencentes ao Serviço Reservado da PM, tentaram justificar o motivo que os levaram a entrar na residência.
"Eles disseram que receberam uma informação de que no local funcionava um ponto de venda de tráfico de drogas. Porém, não revelaram de onde nem como tiveram acesso a essa suspeita. No local, também não foi encontrado nenhum tipo de entorpecente", destacou.
A dedução sobre a presença de drogas na residência foi mencionada pela madrasta de Robertinho, que estava na casa. Pedindo para não ter a identidade revelada, ela revelou que os suspeitos disseram.
Segundo ela, quando o trio entrou no quintal, falou:
“Vou ensinar a vocês a atirar em policia” e deram mais tiros. “Executaram o filho do meu marido. Depois entram em casa e começaram a me pressionar perguntando por drogas. E eu falando que não tinha nada aqui em casa, mas eles perguntavam: 'e a droga daquele que está morto caído lá fora? '. Nessa hora eu fiquei em pânico, descobri que eles tinham matado o Roberto Filho", lamentou.Por Thauany Melo, g1 Goiás